Patentes da discórdia

Alexander Graham Bell nasceu na cidade escocesa de Edimburgo, no dia 3 de março de 1847. Estudioso da ciência da acústica, Bell se mudou com a família para o Canadá em 1870, onde focou suas pesquisas sobre o que viria a ser o telefone. No início de 1876, o então jovem Graham Bell registrou no Escritório de Patentes dos Estados Unidos a invenção pela qual entraria para a história da humanidade.

O registro garantia a Bell a patente de um aparelho eletromagnético que permitia a comunicação simultânea entre dois pontos a uma longa distância entre si. Na mesma época, porém, veio a primeira briga judicial de Bell: Elisha Gray, engenheiro elétrico estadunidense, também reivindicava a invenção (patente) do telefone.

 

Graham Bell: amplamente conhecido como inventor do telefone. (Fonte da imagem: Wikimedia Commons)

Graham Bell: amplamente conhecido como inventor do telefone. (Fonte da imagem: Wikimedia Commons)

No início da década de 1870, Gray descobriu por acaso uma função aprimorada para o telégrafo, que permitia a transmissão de sinais sonoros simultâneos pelo mesmo cabo. Seu projeto empacou, pois ele não descobriu um método de separar os sinais enviados para que pudessem ser interpretados na estação receptora. A demora em registrar seu trabalho levou Gray a ficar para trás.

Gray foi o primeiro mas não o único a contestar Bell como o inventor do telefone. Nascido em Florença, na Itália, em 13 de abril de 1808, Antonio Santi Giuseppe Meucci foi estudante de engenharia química e industrial e teria inventado um protótipo do telefone bem antes do imbróglio entre Gray e Bell da metade da década de 1870.

Meucci: do telégrafo falante ao teletrofono.

O primeiro protótipo do telefone criado por Meucci era um tubo para conduzir o som entre palco e sala de controle do Teatro della Pergola, em sua cidade natal. Por motivos políticos, Meucci se viu obrigado a deixar a Itália e, em 1835, partiu rumo a Havana, capital de Cuba, onde deu sequência a seu trabalho de inventor.

Por acaso, enquanto pesquisava os efeitos das descargas elétricas no corpo humano, Meucci descobriu a possibilidade de transmitir sons por meio de cabos telegráficos. A isso, ele deu o nome de “telégrafo falante”. Em 1854, já vivendo nos Estados Unidos, o inventor italiano aprimorou sua criação e desenvolveu um sistema que permitia a sua mulher enferma se comunicar, de casa, com ele, que trabalhava em um edifício vizinho. Criava-se aí o primeiro sistema telefônico do mundo, chamado por ele de “teletrofono”.

Desenhos de 1857 e 1867, respectivamente, registrados por Meucci. (Fonte da imagem: Divulgação/HHF)

Desenhos de 1857 e 1867, respectivamente, registrados por Meucci. (Fonte da imagem: Divulgação/HHF)

Na década de 1860, o imigrante italiano, que já era pobre, caiu de cama após ficar gravemente ferido durante a explosão do barco em que viajava. Com as finanças cada vez mais escassas, sua esposa se viu obrigada a vender algumas patentes do marido. Nessa época, ela teria negociado inclusive um protótipo do telefone.

Recuperado, Meucci retomou os trabalhos de sua principal invenção, mas não tinha recursos para patenteá-la de forma permanente. Em 28 de dezembro 1871, ele entrou com um processo para registro da patente do “teletrofono”. Como não tinha dinheiro suficiente para registrar permanentemente sua invenção, fez o registro temporário enquanto procurava investidores.

Demonstração pública e processos judiciais

Com o registro temporário da patente em mãos, Antonio Meucci voltou a realizar demonstrações de sua invenção para atrair patrocínio. Um de seus alvos foi a Western Union Telegraph Company, empresa de comunicação telegráfica que recebeu equipamentos e informações sobre o invento do imigrante italiano, mas nunca deu retorno algum.

Quando Meucci tomou conhecimento da patente número 174.465, de 7 de março de 1876, que garantia a Graham Bell a autoria do telefone, ele foi à justiça para ter seu direito de criador reconhecido. Entretanto, o processo nunca foi solucionado e se arrastou por mais 10 anos, até 1889, ano da morte de Meucci em Nova York.

Um dos motivos apontados para a morosidade da justiça dos Estados Unidos em solucionar o caso à época teria sido a pressão da Western Union. Supostamente, a empresa teria um acordo financeiro com Graham Bell e receberia 20% de todo o lucro obtido com a invenção do escocês.

Reconhecimento tardio

Antonio Meucci, reconhecido em 2002 como inventor do telefone. (Fonte da imagem: Wikimedia Commons)

Antonio Meucci, reconhecido em 2002 como inventor do telefone. (Fonte da imagem: Wikimedia Commons)

Em 11 de junho de 2002, o Congresso dos Estados Unidos reconheceu, por meio da resolução 269, as contribuições de Antonio Meucci para a invenção do telefone, ou seja, atestando a o italiano como o verdadeiro inventor do aparelho. Apesar disso, a patente de Bell não foi anulada ou modificada.

Em contrapartida, 10 dias depois, em 21 de junho de 2002, o parlamento canadense aprovou unanimemente uma moção a Alexander Graham Bell, reafirmando o escocês como o inventor do telefone. A posição canadense é vista como uma resposta à ofensa à honra de Bell, que viveu no Canadá e é muito celebrado no país.

E você quem acha que deveria ter a Patente e ser reconhecido como o inventor do Telefone Meucci ou Bell? 

fonte:http://www.tecmundo.com.br/ciencia/20570.